Por O Mago
Nambé sempre foi homem de maré. Sabia de cabeça as luas, os ventos e os horários do salto da tainha. Morava sozinho em São João da Ponta, em uma casa suspensa pelo tempo, madeira velha com cheiro de sal e fumaça, onde só o silêncio conversava com ele quando o rádio pifava.
Naquela semana, errara o ciclo. Sabia disso. Mas arriscou. Queria um extra pra comprar rede nova, dessas com chumbo mais fino e trama bem feita, que não enrosca à toa no fundo do rio.
Saiu na maré alta, voltou de mãos vazias. A rede veio limpa, o matapi boiava seco e o motor do barco parecia zombar dele a cada cuspida.
No caminho de volta, passou por um curral — velho, conhecido, desses que qualquer um podia encostar quando a pesca dava ruim. Era assim o costume: pegava-se só o suficiente pro jantar e deixava-se o resto com a maré.
Ele parou, pegou a tarrafa, e na primeira taifada, sentiu a bronca.
A rede travou no fundo como se tivesse enganchado em algo do mundo antigo. O braço formigou, o rio escureceu em volta. O céu nublou mesmo sem nuvem. E o silêncio que caiu não era natural — era como se tudo ao redor segurasse o fôlego.
Ele viu. Não claramente. Mas sentiu — algo profundo, imóvel, grande demais pra estar ali. Algo que não gostava de ser incomodado.
Nambé largou a rede. Nadou sem rumo, os pés batendo barro, o peito disparando como peixe fora d’água. Voltou pra casa com o corpo tremendo e os olhos baixos. Deixou o barco pra trás. Foi buscar só de manhã, quando o dia clareou e a maré já havia contado outra história.
Na varanda de casa, quando já limpava a lama das pernas, Maria da corneta apareceu. Vizinha de longe. Daquelas que sempre passavam pedindo um café, um peixe ou uma conversa. Em troca de dois ou três goles e um pouco de tempo, deixava um conselho, uma piada ou uma reza escondida num ditado.
— Bom dia, compadre Nambé — disse, sem esperar resposta.
— Hoje não vim por açúcar nem prosa. Só vim lembrar que tem coisa nesse mundo que não se mexe em qualquer dia.
Ele ficou quieto.
— O senhor lançou rede no errado. Essa lua não gosta de visita. Nem de tarrafa.
Na próxima, vá só na lua nova do mês que vem. Nem antes. Nem depois. E vá de cabeça limpa. Quem não respeita, se perde. E nem sempre o corpo volta junto com a alma.
Ela virou as costas e sumiu na trilha da ilha.
Nabé ficou sem pescar por um mês inteiro. Contou os dias em silêncio. Esperou a lua certa com olhos baixos e panela vazia.
Quando chegou a noite prometida, ele voltou. Silencioso. Jogou a tarrafa. A água borbulhou. E o barco voltou abarruado de gurijuba e tainha: peixe demais, até pros vizinhos.
Na semana seguinte, alguém disse ter visto marcas de dedos de lama na porta da casa dele. Nabé só respondeu:
— Tudo tem dono. Até o que parece largado.
E nunca mais jogou rede sem ouvir a lua.
Tudo Tem Dono
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